Quilombo de Igarapé Preto debate estudo ambientale boas práticas alimentares na comunidade

Kid Reis

Writer & Blogger

A Comissão de Regularização Fundiária da Universidade Federal do Pará (CRF-UFPA) e a
Secretaria de Ciência, Tecnologia e Educação Superior, Profissional e Tecnológica do Estado do
Pará (Sectet) realizam entre 17 a 20 de abril mais uma etapa intercâmbio de conhecimentos
para debater as boas práticas alimentares e realizar um estudo ambiental do território da
Comunidade Quilombola do Igarapé Preto, localizada em Oeiras do Pará. As atividades
marcam a continuidade do Projeto Inovação Territorial para Jovens e Adultos do Igarapé Preto
e serão realizadas na Escola Municipal Zumbi dos Palmares, situada na BR-422, S/N, na Vila do
Igarapé Preto. Os saberes serão compartilhados pelas professoras Milena Castro e Marilena
Loureiro.

Para Kelly Alvino, vice-coordenadora da parceria com a Sectet, o objetivo do Projeto é o de
promover o desenvolvimento humano e social equitativo da comunidade quilombola, por
meio das famílias que desenvolvem as suas praticas culturais agroalimentares e têm a vocação
para integrar uma rede de empreendedores interessados em escoar a produção agroalimentar
como um modelo de negócio inovador de base comunitária.
A professora Milena Castro, da Faculdade de Turismo da Universidade Federal do Pará,
abordará as definições sobre o que são Doenças Transmitidas por Alimentos (DTA); quais são
as boas práticas alimentares; os riscos de contaminação; quais são os micróbios que só podem
ser vista por microscópio; como deve ser o local de trabalho; os cuidados que devem ser
tomado com a água; a manipulação de alimentos e a lavagem correta das mãos, entre outras
orientações normativas para garantir um hábito saudável. “Vamos resgatar a memória e a
culinária afrodescendente com a participação da comunidade”, antecipa. Já professora
Marilena Loureiro, Pós-Doutora em Educação Ambiental e Justiça Climática e com doutorado
em Desenvolvimento Sustentável no Trópico Úmido pelo Núcleo de Altos Estudos Amazônicos
(NAEA), realizará estudo ambiental do território.

SOCIAL – Por sua vez, Maria do Carmo Silva, assistente social e mestre em Planejamento
Urbano e Regional pelo Núcleo de Altos Estudos Amazônicos da Universidade Federal do Pará
(Naea/UFPA), fez um relato sobre o levantamento dos estudos sociais, culturais e entrevistas
realizados dias 28 a 31 de março na comunidade. Os dados integrarão as informações
coletadas pelo Projeto junto ao quilombo sobre o perfil econômico, cultural, fundiário,
ambiental e turístico do território na região do Baixo Tocantins.
A assistente social esclareceu que o diálogo foi produtivo, mas exigiu uma flexibilidade para
construir uma comunicação mais efetiva no território. “Este cenário é compreensível e precisa
ser amadurecido, mas estamos avançando. Foram realizadas 29 entrevistas com moradores e
moradoras da comunidade, sendo 65% mulheres e 35% homens. 10 moradores tinham entre
26 e 40 anos e outros dez entre 41 e 60 anos. Oito tinham de 15 a 25 anos. Entre 41 e 80 anos,
somente um entrevistado”, disse. Sobre a escolaridade local, os dados são positivos. Dos 29
entrevistados, segundo ela, três possuem pós-graduação, oito possuem ensino superior
completo, três com curso superior em andamento, cinco cursando ensino médio, um com
ensino médio incompleto e um com o curso concluído. Dois possuem ensino fundamental
incompleto e dois completos, sintetizou Maria do Carmo.
A assistente social destacou, ainda, que as capacitações realizadas pelo Projeto promoveram
melhorias na organização e nas ofertas de serviços, tais como: a entrega de cartão de visitas
para os frequentadores, apresentação de cardápio, melhor organização para atender o público
nos empreendimentos e uma visão de planejamento voltada para o turismo, assim como as
melhorias nas cadeiras e mesas com forros decorativos e uso completo de talheres.
Ficou evidente, também, para Maria do Carmo, “uma defesa maior do meio ambiente e a
necessidade de resgatar as manifestações culturais, tais como as ladainhas, as relações com as
benzedeiras, as quadrilha na roça, a “tiração” do ano novo com os cantos de Santos Reis, além
levar o samba do cacete e o uso do ganzá para os balneários”, assinalou a assistente social.
Embora ainda exijam mais estudos, as pesquisas indicam que ganzá é um instrumento híbrido
afro-indígena utilizado pelos índios fugidos dos aldeamentos e pelos quilombolas da
escravização dos senhores de terras. “O samba do cacete e o ganzá devem ser levados para as
escolas e os espaços de sociabilidade, como é a escolinha de futebol como resgaste social,
cultural da memória e da identidade afrodescendente. A oralidade tem uma função social de
resgate para evitar o apagamento da memória e da história”, observou Maria do Carmo.

Por sua vez, Renato das Neves, coordenador da parceria com o Governo do Estado do Pará, que acompanhou a assistente social, destacou outros avanços percebidos na comunidade
como os resgates dos laços de identidade afrodescendente, a valorização do atendimento nos
espaços gastronômicos e a futura instalação de placas com os nomes das ruas do quilombo
para favorecer os deslocamentos no território. “Fiquei feliz em perceber que a comunidade
debateu e decidiu modificar o nome da Rua Princesa Izabel para Zumbi dos Palmares,
mostrando um resgate da identidade histórica de uma grande liderança quilombola. Outro
ponto positivo foi a continuidade do diálogo com a Prefeitura de Oeiras e com vereador para
replicar a capacitação do Projeto Inovação Territorial para Jovens e Adultos juntos aos
servidores públicos e a comunidade em Oeiras do Pará”, comemorou.

FEIRA – O engenheiro enfatiza, também, que foi composta uma comissão formada por
moradores do Quilombo de Igarapé Preto para organizar a feira de culminância do Projeto a
ser comemorada durante a Semana da Consciência Negra celebrada no dia 20 de novembro. A
data que foi instituída pela Lei Federal 12.519/2011 relembrando à morte do líder quilombola
Zumbi dos Palmares (1655-1695) como mais uma oportunidade para debater a diáspora
africana no Brasil, bem como para refletir sobre medidas e ações propositivas em defesa da
plena cidadania do povo negro. A feira envolverá a comunidade, as mulheres
empreendedoras, educadores sociais, gestores do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e
Pequenas Empresas (SEBRAE) e das secretarias estaduais de Ciência, Tecnologia e Educação
Superior, Profissional e Tecnológica e de Turismo do Estado do Pará, além de representantes
da UFPA, entre outros.
A feira, segundo ele, promoverá o intercâmbio de conhecimentos e saberes entre as
instituições federal e estadual e a comunidade e os seus visitantes “Será um momento da
coroação de uma metodologia de pesquisa de campo construída no quilombo do Igarapé
Preto, onde as famílias desenvolvem as suas práticas culturais agroalimentares e têm a
vocação para integrar uma rede de empreendedores interessados em escoar a produção
agroalimentar local como um modelo de negócio inovador de base comunitária, fortalecendo
a geração de emprego e renda, além de resgatar os seus saberes, a ancestralidade e a
cidadania. Uma experiência a ser compartilhada e adaptada à realidade de outros quilombos”,
finaliza.

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