Projeto Inovação Territorial para Jovens e Adultos revela avanços estruturantes no Quilombo do Igarapé Preto

Kid Reis

Writer & Blogger

Avaliar a experiência da capacitação em hospedagem familiar, a formação de guias, a construção de roteiros turísticos e planejar as próximas visitas técnicas visando dar continuidade ao Projeto Inovação Territorial para Jovens e Adultos da Comunidade Quilombola do Igarapé Preto no começo do mês de março. Estes pilares deram sustentabilidade aos debates realizados pela Coordenação Geral do Projeto, juntamente com professores, bolsistas e demais colaboradores, no dia 10 de fevereiro, sexta-feira, a partir das 14 horas, na sala da Comissão de Regularização Fundiária da Universidade (CRF-UFPA), localizada no Campus Belém, na capital paraense. As capacitações temáticas ocorrem entre 23 e 27 de janeiro na Escola Zumbi do Palmares, no Quilombo do Igarapé Preto, em Oeiras do Pará.

Renato das Neves, professor e pesquisador do Instituto de Tecnologia da Universidade Federal do Pará (ITEC-UFPA) e coordenador do Projeto deu boas vindas aos participantes reafirmando que a parceria promove o desenvolvimento humano e social equitativo da comunidade, por meio das famílias que desenvolvem as suas práticas culturais agroalimentares e têm vocação para integrar uma rede de empreendedores interessados em escoar a produção agroalimentar como um modelo de negócio inovador de base comunitária. O Projeto é uma parceria entre a CRF-UFPA, a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Educação Superior, Profissional e Tecnológica do Estado do Pará (Sectet) e a comunidade quilombola do Igarapé Preto. “A cada avaliação da equipe é evidente um grande de intercâmbio de conhecimentos com a comunidade”, avaliou Renato.

Durante a reunião, a professora Ágila Rodrigues, doutoranda em Desenvolvimento Socioambiental e Mestra em Planejamento do Desenvolvimento pelo Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Sustentável do Trópico Úmido (PPGDSTU), do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA) da Universidade Federal do Pará, falou sobre os conceitos estruturantes da Formação em Hospedagem Familiar no território, que permitem uma experiência diferenciada entre o turista, a comunidade e seus valores locais, uma vez que o quilombo planeja e está construindo ou já possui equipamentos para atender os turistas.

Balneário local
Casa da farinha

O quilombo tem balneários, trilhas para caminhadas sustentáveis, pousadas, uma rica gastronomia realizada nas residências e as manifestações culturais, como, por exemplo, o samba do cacete. “Esta manifestação reforça a memória e a resistência da comunidade e os seus valores afrodescendentes. Além disso, eu destaco a importância da realização de uma visita à roça de mandioca e à casa de farinha para reforçar o turismo de experiência, ou seja, valorizar uma ação que incentiva a geração de emprego e renda, além de integrar o turista com a realidade local, o uso da terra e os sentidos e as vivências comunitárias”, avaliou.

Segundo Ágila foi debatida, também, a criação de um Pesque e Pague ou Pesque e Solte, a importância da segurança da hospedagem familiar, a construção de parcerias com o Rallye do Sol e “ o pensar na estruturação de uma Cooperativa de Turismo de Base Comunitária para garantir a legalidade jurídica para o microempreendedor individual local visando mais acesso às garantias constitucionais”, incentivou. Por sua vez, o professor Bernardino Silva Junior, mestre em Arquitetura e Urbanismo pelo Programa de Pós-Graduação em Urbanismo do Instituto de Tecnologia da Universidade Federal do Pará (PPGAU/ITEC/UFPA) e Bacharel em Turismo pelo Instituto de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Federal do Pará (ICSA - UFPA), falou sobre as Estratégias de abordagens de produtos turísticos e conduta profissional no universo de um território quilombola. “É importante ter um olhar amplo, social e profissional sobre as interelações existentes com as comunidades ribeirinhas, indígenas, periurbanas e quilombolas”, alertou.

Em sua avaliação, o professor destacou a participação positiva da comunidade com a construção de vários roteiros turísticos para acolher os visitantes, além de constatar e propor um planejamento visual do território destacando as sinalizações das ruas, igarapés, trilhas, casas de hospedagem, casas de pizza, hamburgueria, casa de farinha e outros atrativos turísticos e gastronômicos. “Estes avanços fortalecem o papel dos guias e condutores locais. O turismo comunitário está respaldado no Plano Nacional do Turismo, conforme previsto no artigo 6 da Lei 11771, de 2008”, refletiu o educador.

Roteiro turístico feito pela comunidade

Bernardino ponderou a necessidade de construir um ponto de equilíbrio com a comunidade para evitar a colocação de cercas nos igarapés e liberar o curso de água para o exercício de canoagem e até para servir um café da manhã nas estruturas balneárias edificadas ao longo do igarapé, que é constituído por um braço de rio ou um canal que percorre no meio da mata no território. “Destaco, também, o uso das mídias digitais pela comunidade que divulga as suas criações, em especial sobre a moda, pelo Instagram, assim como é necessário compatibilizar os múltiplos calendários de eventos e evitar uma sobreposição de atividades no quilombo. A capacitação e a participação comunitária foram proveitosas”, elogiou. Por sua vez, Tales Rocha, futuro engenheiro civil, e integrante do Projeto Inovação Territorial para Jovens e Adultos da Comunidade Quilombola do Igarapé Preto, realizou um balanço sobre a evolução dos trabalhos envolvendo os projetos arquitetônicos da Casa de Cultura, Barracão Comunitário e o espaço conhecido como Sede do Navega Pará. “Os projetos estão avançados e estamos fazendo uma coleta de preços dos materiais para compor os custos para apresentar no edital para a comunidade. O espaço do Navega Pará será estruturado para contemplar uma biblioteca, uma sala de leitura, brinquedoteca, lan-house e uma área para exposições de quadros ou escultoras”, informou.

Curso da água no igarapé sem cerca

Já Marcos Cesar Serrufo detalhou, por sua vez, que estes três projetos arquitetônicos são fundamentais para melhorias na infraestrutura física na comunidade, assim como instrumentos estratégicos para avançar a prática e o intercâmbio de conhecimentos para resgatar os saberes tradicionais da comunidade. “Neste contexto, é determinante destacar o trabalho da equipe de Tecnologia e Informação que criou site https://pitquilomboigarapepreto.com.br. Em março próximo reforçaremos a importância das mídias digitais como ferramentas para o desenvolvimento local”, projetou Serrufo.

A Coordenação Geral do Projeto deliberou, ainda, que no começo de março haverá visitas técnicas para debater as futuras ações no território e a realização de uma feira de projetos envolvendo a comunidade, as mulheres empreendedoras, educadores sociais, gestores do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Educação Superior, Profissional e Tecnológica do Estado do Pará (Sectet), além de representantes da Universidade Federal do Pará (UFPA), entre outros.


Texto: Kid Reis – Ascom CRF-UFPA – Fotos: Kid Reis e Kelly Alvino.

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