Projeto de pesquisa constrói cinco planos de negócios para o Quilombo de Igarapé Preto

Kid Reis

Writer & Blogger

Com participação de 38 moradores, entre jovens e adultos da Comunidade Quilombola de Igarapé Preto, em Oeiras do Pará, a Comissão de Regularização Fundiária da Universidade Federa do Pará e a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Educação Superior, Profissional e Tecnológica do Estado do Pará (Sectet) encerraram na última sexta-feira, 22 de setembro, na Escola Municipal Zumbi dos Palmares, localizada no Km 76 da BR – 422, na Região do Baixo Tocantins, duas oficinas de capacitação que resultaram na construção de cinco planos de trabalhos para os segmentos da moda quilombola, gastronomia, hospedagem, rota turística e bem estar, que serão impulsionados pelo marketing digital nas plataformas digitais e com o uso das mídias sociais no território.
As ações integram o Projeto de Pesquisa Inovação Territorial para Jovens e Adultos da Comunidade Remanescente do Quilombo do Igarapé Preto e contam com o suporte operacional da Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa (Fadesp). As atividades foram ministradas pelos educadores Eduardo Gomes, professor do Instituto de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Federal do Pará (ICSA-UFPA) e Flávio Moura, integrante do Núcleo de Tecnologia da Informação do Projeto de Pesquisa e graduando em Engenharia da Computação da Universidade Federal do Pará.

Turma do Professor Eduardo Gomes

Eduardo Gomes, professor do ICSA-UFPA, destacou que os cinco planos de trabalhos foram construídos com a participação social de 11 mulheres e quatro homens e todos levaram em consideração a realidade de cada morador, o seu plano específico, o território, a dinâmica social e a forma de colocá-lo em execução – efffectuation – no mercado. Ele detalhou o plano de negócios que trabalhará uma coleção de moda afrodescendente, valorizando a identidade cultural, o pertencimento e construindo uma plataforma de resistência contra a discriminação racial para fortalecer a inclusão social. O plano gerará emprego e renda de forma empreendedora na comunidade, além de utilizar o marketing digital para a divulgação das peças.
O professor explicou que foram debatidas várias fases de implantação do plano, ou seja, a escolha de um tecido, as suas cores, o estilo do corte para a costura das peças, as formas de vestimenta, a maquiagem, o penteado, o uso de brincos e dos calçados, além da engenharia econômica das viabilidades de receitas e despesas no mercado, por meio de um fluxo de caixa equilibrado, ou a formulação da figura jurídica do microempreendedor individual, onde todos realizam um trabalho colaborativo na divulgação de suas mercadorias pelas mídias sociais.
Gomes disse, ainda, que o sucesso do plano reside no equilíbrio do monitoramento das etapas das despesas e receitas, assim como na gestão emocional de médio e longo prazo na execução do planejamento. “O controle do fluxo de caixa é determinante e possibilitará que a comunidade operacionalize, também, os planos de rota turística, gastronomia, hospedagem, entre outras formas de interações no território”, sinalizou feliz com o aproveitamento da oficina.

Por sua vez, Flávio Moura, integrante do Núcleo de Tecnologia da Informação do Projeto e graduando em Engenharia da Computação da Universidade Federal do Pará, ministrou a oficina sobre o marketing digital e mídias sociais para 23 participantes, sendo 14 mulheres e nove homens. Foram debatidas as ferramentas tecnológicas que colocam em prática os planos de negócios, por meio da internet, e as suas relações econômicas com a realidade local, estadual, nacional e internacional. “Uma janela aberta de possibilidades para a execução de negócios por meio do e-commerce”, sintetiza.
O relatório The Global Payments Report 2022 aponta que o e-commerce brasileiro terá um crescimento anual de 18% até 2025. Na pandemia houve um faturamento de 785% nos cinco primeiros meses de 2022, segundo um estudo da SmartHint, um site de busca. Foram debatidas, ainda, as plataformas Google Maps, Tripadvisor, WhatsApp e o Instagram, além dos desafios colocados pelo uso da inteligência artificial, via Chat GPT ou pelo Google Bard.

Segundo futuro engenheiro, uma ferramenta debatida com sucesso foi a plataforma de design gráfico conhecida por Canva. “Ela permite aos usuários criar apresentações gráficas e outras peças visuais para a prática do marketing digital e a gestão dos negócios. Esta visibilidade permite um planejamento global sobre a produção, vendas, compras, controle de estoque, faturamento e o fortalecimento da geração de emprego e renda no quilombo. Este cenário estimula uma interação entre os mais jovens e os adultos na socialização do uso das tecnologias e na realização dos negócios. É a tecnologia com calor humano”, assinala.
A Comunidade Remanescente do Quilombo do Igarapé Preto está inserida em área coletiva juntamente com 11 comunidades, ou seja, Papelônia, Varzinha, Baixinha, Franca, Cupu, Araquembau, Carará, Costeiro, Teófilo e Igarapezinho, que possuem título de propriedade coletiva definitiva da terra cumprindo-se o artigo 68 das disposições constitucionais transitórias da Constituição Federal de 88.

Texto: Kid Reis – Ascom CRF-UFPA – Fotos: Sílvia Letícia.

Pular para o conteúdo