Elaboração dos relatórios finais marca novos passos do Projeto de Pesquisa no Quilombo de Igarapé Preto

Kid Reis

Writer & Blogger

Entrega de projetos arquitetônicos, saborear uma rica gastronomia nas trilhas do quilombo, presenciar a apresentação cultural do samba do cassete com um desfile de moda e uma ampla participação social da comunidade quilombola. Estes foram alguns dos suportes centrais que marcaram, com muita alegria, leveza e emoção, nos dias 10 e 11 de dezembro, na sede da Associação das Comunidades Remanescentes de Quilombo de Igarapé Preto (Arqib), o encerramento do Projeto de Pesquisa e Extensão: Inovação Territorial para Jovens e Adultos da Comunidade Remanescentes do Quilombo de Igarapé Preto, em Oeiras do Pará. A comunidade está localizada na Região do Baixo Tocantins sendo cortada pela Rodovia BR – 422 – Transcametá – e distante 344 quilômetros de Belém pela PA-151.

Plenário da Arqib

Participaram do encerramento a Prefeita de Oeiras do Pará, Gilma Drago Ribeiro, a vereadora Roberta Araújo, a Presidente da Arqib, Marinilva Arnaud Martins, a diretora da Escola de Ensino Médio e Fundamental Tia Mariazinha, Marlice Menezes, a diretora Escola Zumbi dos Palmares, Iracilda Siqueira, e o coordenador de Cultura de Igarapé Preto, Diogo Baia Machado, além da presença do engenheiro e pesquisador do Instituto de Tecnologia da Universidade Federal do Pará (ITEC-UFPA) e coordenador do Projeto, Renato das Neves, e das lideranças comunitárias locais. “Agora vamos elaborar os relatórios do projeto”, frisou Renato.

Durante o evento foram entregues para os gestores municipais e para as lideranças do quilombo os projetos arquitetônicos para a construção de uma biblioteca quilombola, uma casa de cultura e um barracão comunitário. “Vamos trabalhar para viabilizar os recursos para financiar estas estruturas estratégicas para a comunidade de Igarapé Preto. Um dos grandes desafios já foi superado, pois a CRF-UFPA elaborou os estudos e temos os projetos em mãos”, disse a prefeita de Oeiras do Pará, Gilma Drago Ribeiro. 

As peças urbanísticas foram projetadas  por Camila Silva Pina, Flávio Moura,  Tales Rocha, Nívia Lisboa, Albert Santos e Lucas Batista, sob a coordenação de Nívea Albuquerque, professora, engenheira e  tutora do  Programa de Educação Tutorial de Engenharia Civil da Universidade Federal do Pará (PET Civil UFPA).

A culminância dos trabalhos na Feira envolveu a Comissão de Regularização Fundiária da Universidade Federal do Pará (CRF-UFPA), a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Educação Superior, Profissional e Tecnológica do Estado do Pará (Sectet) e as lideranças do quilombo. 

“Tudo começou em 2019 com a discussão sobre o famoso biscoito de castanha da comunidade como um produto para gerar emprego e renda no território, além de elaborar um projeto de pesquisa para construir uma metodologia participativa financiada com recursos públicos pagos pela sociedade e disponibilizados pelo Governo do Estado do Pará, via Sectet-Pa, no valor de R$ 626.630,62”, assevera o coordenador do Projeto.

Os recursos foram administrados pela Fundação Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa (Fadesp) e agora a CRF-UFPA começa a elaboração dos relatórios de prestação de contas envolvendo as atividades desenvolvidas pelas equipes interdisciplinares dos Núcleos de lnclusão produtiva e desenvolvimento local, lnfraestrutura e qualidade de vida e Tecnologia e lnformação. “Um olhar de geração de emprego, renda, inovação territorial e resgate da ancestralidade afrodescendente”, assinala o pesquisador.

Respeitando os saberes locais foi consolidado e entregue para a comunidade, também, um perfil social, fundiário, cultural, ambiental, gastronômico e turístico do território. O projeto promoveu o desenvolvimento humano e social equitativo do quilombo, por meio das famílias que desenvolvem as suas práticas culturais agroalimentares e passa a integrar uma rede de empreendedores interessados em escoar a produção agroalimentar como um modelo de negócio inovador de base comunitária.

Vista da exposição dos afetos em Igarapé Preto

No final da Feira de Encerramento do Projeto ocorreu a Exposição Igarapé dos Afetos e um desfile de quatro coleções de moda, além da realização de um foto-varal retratando os múltiplos momentos participativos da comunidade. “A fotografia é um instrumento documental do processo metodológico, inclusivo e sustentável desenvolvido no território. O Quilombo de Igarapé Preto foi inovador neste contexto”, enfatiza Renato.

Modelos na Arqib

Para ele, a experiência metodológica é muito rica e pode ser aplicada em outros quilombos no Brasil. “Compartilhar e trazer novos saberes para o mundo universitário amazônico contribui para os enfrentamentos contra as desigualdades raciais, econômicas, sociais, fundiárias e habitacionais na sociedade de classes. É fundamental fortalecer as lutas pela garantia titulação das terras para os remanescentes das comunidades quilombolas no Brasil, que está consagrada na Constituição de 88”, enfatiza.

Samba do cacete

O Projeto de Pesquisa e Extensão resgata a ancestralidade africana com a participação social do quilombo e solidifica uma rede de empreendedores interessados em escoar a produção local como um modelo de negócio inovador de base comunitária. “As práticas e os saberes tradicionais inspiram, ressignificam e potencializam nossas formas de existir e resistir. A feira foi uma explosão de cores, sabores, cheiros, sentimentos e a construção de uma metodologia inovadora para trabalhar nos quilombos brasileiros”, escreveu o coordenador em carta de agradecimento pela participação de todos no projeto.

Barracas da Feira

Texto: Kid Reis – Ascom CRF-UFPA

Fotos: Renato das Neves, Nego San, Tina Rodrigues e Kid Reis.

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