Debate sobre moda resgata identidade e criará coleção no Quilombo do Igarapé Preto

Kid Reis

Writer & Blogger

Com a participação de aproximadamente 30 inscritos, sendo um público feminino e jovem, o Projeto de Pesquisa “Inovação Territorial para Jovens e Adultos da Comunidade Remanescente do Quilombo do Igarapé Preto”, em Oeiras do Pará, iniciou ontem, 14 de agosto, mais um ciclo de capacitação para jovens e adultos do território sobre a Moda Afro-brasileira, o vestir como resistência e combate à discriminação racial. A capacitação ocorre na Escola Municipal Zumbi dos Palmares, localizada na BR-422. O Brasil tem 1,3 milhões de quilombolas em 1.696 municípios, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

As atividades terminarão dia 18 de agosto e marcam mais uma etapa da parceria firmada entre a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Educação Superior, Profissional e Tecnológica do Pará (Sectet), a Comissão de Regularização da Universidade Federal do Pará (CRF-UFPA) e as famílias quilombolas, além do suporte operacional da Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa (Fadesp).

O objetivo do Projeto de Pesquisa é promover o desenvolvimento humano e social equitativo da comunidade quilombola, por meio das famílias que desenvolvem as suas práticas culturais agroalimentares e têm vocação para integrar uma rede de empreendedores interessados em escoar a produção agroalimentar como um modelo de negócio inovador, de base comunitária.

O diálogo com as famílias do território iniciaram antes da pandemia de Covid 19 e já foram realizadas diversas qualificações sempre respeitando os saberes locais para formar empreendedores, fortalecer desenvolvimento sustentável e reduzir índices de conflitos socioambientais. “As capacitações compartilham conhecimentos sobre o empreendedorismo comunitário voltado à competitividade e à inovação dos negócios mediante a realidade cultural e territorial”, relata Renato das Neves, Coordenador do Projeto.

Por sua vez, a mestra em Comunicação, Linguagem e Cultura pela Universidade da Amazônia (Unama), Ysa Almeida Brasil, ministrante do curso explica que, após uma apresentação dos participantes, foram debatidos os conceitos sobre moda e as suas relações com as cores, com a formação da identidade, o resgate da cultura e o pertencimento afrodescendente. “Todo ser humano tem que estar consciente de sua identidade étnica e com uma atuação dinâmica ao seu favor dentro de um contexto histórico, geográfico e cultural”, detalhou.

Ysa afirmou, ainda, que este intercâmbio cultural trabalha o fortalecimento e a autonomia dos participantes para se envolverem de maneira criativa e profissional no segmento da moda para além das fronteiras do território do quilombo. “O produção e os projetos resultante da moda identificam um tempo histórico, um lugar, um comportamento, uma identidade e o pertencimento, ou seja, a moda é um meio de comunicação, um estilo de vida, expressão pessoal e um reservatório de significados históricos. Estamos construindo uma coleção a partir da criatividade dos participantes”, sinalizou a educadora.

O Projeto de Pesquisa se fundamenta no tripé acadêmico de ensino, pesquisa e extensão. “No momento em que o mundo olha para o Brasil e o Estado do Pará, em função da realização da COP-30, a capacitação sobre moda afro-brasileira promove o desenvolvimento humano e social equitativo da comunidade, por meio das famílias do território que desenvolvem as suas práticas culturais agroalimentares para autonomia e a cidadania no território”, informa Kelly Alvino, integrante da CRF-UFPA.

Ela afirma que este cenário fortalece a identidade étnica como elemento de reafirmação, de pertencimento e de combate à discriminação e à violência racial brasileira. “Soma-se a esta construção de conhecimentos e o resgate da afrodescendência quilombola, a luta da juventude, comemorada no último dia 12 de agosto, assim como a realização da 7ª Edição da Marcha das Margaridas, que ocorre entre 15 e 16 de agosto, em Brasília, envolvendo trabalhadoras rurais, quilombolas, ribeirinhas, sem terra, extrativistas, moradoras de centros urbanos e a comunidade LGBTQIA+. Este conjunto de conhecimentos multiculturais gera empoderamento entre as equipes da UFPA e a comunidade quilombola, além de promover melhorias na qualidade de vida e participação social no território”, reflete Kelly.

As próximas capacitações do Projeto de Pesquisa Inovação Territorial para Jovens e Adultos da Comunidade Remanescente do Quilombo do Igarapé Preto serão voltadas para o Marketing Digital e a Construção de um plano de negócio para ser colocado em prática pela comunidade para que ela caminhe com a sua própria autonomia, além da realização de uma feira de encerramento do Projeto no Quilombo em novembro próximo.

Texto: Kid Reis – Ascom CRF-UFPA – Fotos: Renato das Neves e Arquivo Canva.

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