Quilombo de Igarapé Preto constrói novas etapas do Projeto Inovação Territorial para Jovens e Adultos

Kid Reis

Writer & Blogger

Realizar as capacitações comunitárias sobre os temas relacionados à moda afrodescendente, os múltiplos
saberes gastronômicos do território, marketing digital e consolidar um roteiro para a realização de uma ampla feira de encerramento do Projeto Inovação Territorial para Jovens e Adultos do Igarapé Preto com a apresentação de todos os produtos para garantir à autonomia da comunidade para caminhar com as próprias pernas e com os conhecimentos sobre os seus direitos, deveres, resgate e preservação da identidade e do território. Estes são os próximos passos do Projeto que serão implementados no território, por meio da parceria entre a Comissão de Regularização Fundiária da Universidade Federal do Pará (CRF-UFPA), a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Educação Superior, Profissional e Tecnológica do Estado do Pará (Sectet) e a Comunidade Quilombola do Igarapé Preto, situada na BR-422, S/N, em
Oeiras do Pará.

De acordo Kelly Alvino, vice-coordenadora da parceria, estas novas etapas foram sistematizadas em reunião realizada na última quinta-feira, 27 de abril na sala da Coordenadoria de Patrimônio Imóvel (CPI), que ligada à Diretoria de Almoxarifado e Patrimônio (DAP-UFPA) e uma unidade administrativa subordinada à Pró-Reitoria de Administração da Universidade Federal do Pará (Proad-UFPA). “O objetivo do Projeto é o de promover o desenvolvimento humano e social equitativo da comunidade quilombola, por meio das famílias que desenvolvem as suas práticas culturais, ambientais, turísticas, musicais e agroalimentares e têm a vocação para integrar uma rede de empreendedores interessados em escoar a produção agroalimentar como um modelo de negócio inovador de base comunitária, além de promover o resgate da cultura e da identidade afrodescendente no território”, afirma Kelly.

A professora Milene Castro, da Faculdade de Turismo da Universidade Federal do Pará (Factur), que debateu as boas práticas alimentares com 13 inscritos no curso, entre 17 a 20 de abril, abordou as definições sobre o que são as Doenças Transmitidas por Alimentos (DTA), destacando, por exemplo, os coliformes fecais, salmonella, escherichia coli e rotavírus, um dos causadores de diarréia grave para crianças, entre outras. Ela debateu as boas práticas alimentares, os riscos de contaminação e como deve ser o local de trabalho.

Os participantes foram alertados sobre os cuidados que devem ser tomados com a água, a manipulação de alimentos e a lavagem correta das mãos, entre outras orientações normativas para garantir um hábito alimentar saudável nas múltiplas relações comerciais e familiares na comunidade.

Milene informou que não conhecia o Quilombo do Igarapé Preto. “Fui pesquisar sobre o território e percebi a organização quando estive na capacitação em campo. Os participantes trazem conhecimentos e práticas históricas com a manipulação de alimentos. Debatemos as novas normas e notas técnicas aprovadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), principalmente depois da pandemia da Covid 19”.

A professora explica poucos tiveram contatos com as normas da Agência. Isso gerou um debate produtivo sobre o uso de máscaras, luvas e lavagens das mãos, além dos vários riscos de contágios dos alimentos quando estão em manipulação. “Foi um aprendizado rico. Eles trabalham com o empreendedorismo ligado com a culinária local e tradicional e com elementos de alimentação de rua, tais como pastel, hambúrguer, pizza e churrasco”, relatou.

Milene disse, ainda, que todos eles buscam a capacitação para alcançar o certificado de manipulação de alimentos para atender bem aos visitantes, além de gerar emprego, renda, estimular o turismo local e entregar um serviço de qualidade nas relações econômicas locais, refletiu.

Neste ponto ficou claro, segundo ela, que a atratividade do turismo cultural, onde a gastronomia e o hábito alimentar local estão inseridos e ajudam a preservar a memória alimentar e histórica, por meio do consumo de biscoito de castanha, o licor, farinha e outras vertentes da culinária repassada pelos avós e pelos pais, inclusive nas festas populares e religiosas. “Assim se produz uma salvaguarda do patrimônio gastronômico afrodescendente a ser compartilhado com os turistas pelo potencial local, assim como no Estado do Pará”, afirma a professora.

Além disso, ela diz ter ficado feliz em perceber o fortalecimento da hospedagem familiar, o guiamento turístico, a produção dos alimentos voltada para os empreendedores locais, as trilhas ecológicas e o debate sobre o uso das mídias sociais no território. “A comunidade tem um potencial de turismo de experiência e gastronômico muito grande. A gastronomia é o terceiro maior setor econômico e o que mais impulsiona viagens pelo mundo”, assevera Milene.

Por sua vez, Renato das Neves, coordenador do Projeto, ressalta a superação dos desafios e o aprendizado desta nova experiência de ensino, pesquisa e extensão, iniciada antes da pandemia da Covid-19, envolvendo os núcleos de inclusão produtiva e desenvolvimento local, infraestrutura e qualidade de vida e tecnologia e informação. “Buscamos, em parceria com a comunidade, despertar os jovens e adultos para identificar e desenvolver cenários propícios para negócios relacionados aos produtos locais e regionais e formar empreendedores no território. Estamos construindo melhorias na infraestrutura física para adequação dos espaços de uso coletivo visando favorecer o empreendedorismo, o turismo comunitário e o resgate da ancestralidade e os saberes locais. É uma experiência rica e que pode ser adaptada em outros quilombos do Pará e do Brasil”, projeta.

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